Peripécias pela Sudamérica por Charlie Flesch
Olá pessoas, como vão todos?
Eu agora estou em Manaus descansando um pouco depois de 6 semanas fora de casa.
Aqui vai uma breve descrição do que aconteceu até agora.
As duas primeiras semanas foram trabalhando como uma espécie de guia para uma família americana que veio para o Brasil pra curtir as férias. Primeiro foram 6 dias em um barco na Amazônia indo pra cima e pra baixo pelo rio Tapajos perto de Santarém. Depois foram 10 dias em uma ilha em Angra, onde passei Natal e Ano Novo com essa família.
Daí no mesmo dia que acabei o trabalho com eles eu voei pro Peru pra começar minha mais recente aventura que ainda está em andamento.
De Lima fui para Machu Picchu onde para chegar fui por uma trilha de 4 dias caminhando como o cão, e olha que eu tô razoavelmente acostumado a fazer isso, por paisagens absurdamente lindas. O dia número dois da caminhada foi o mais fantástico de todos. Dia 1 acampamos a mais ou menos 3.700m de altitude, daí na manhã do dia 2 subimos 900m verticais pra chegar em 4.600m depois de andar a manhã toda. Então chegamos de frente com um glaciar (pico com neve eterna) de mais de 6.000m de altitude. Ali, muito vento e frio. Quando passamos para o outro lado da montanha e começamos a descer, adivinha, estávamos na Bacia Amazônica!!! Bom, para os não biólogos que não sabem bem o que isso significa, significa que cada pinguinho de água que cair desse lado da montanha vai necessariamente chegar no mar através do Rio Amazonas. Conforme o gelo derrete, dá pra ver os micro riachinhos se formando e alimentando rios que vão se tornar cada vez maiores, e se você for seguindo vai acabar chegando no Rio Amazonas e no Oceano Atlântico.
Desse ponto da descida é possível avistar uma vegetação lá em baixo, onde tem mais umidade e mais solo e assim, ali começa a Mata Amazónica. Em 3 horas baixando pela trilha, estávamos totalmente envoltos por vegetação (que em nada se assemelha com a imagem de Mata Amazónica, aquela coisa gigante que temos, pois obviamente estamos a mais de 3.000 de altitude). Isso foi uma das experiências mais impressionantes que já tive na vida. Em 3 horas passar de estar quase congelando na frente de um glaciar para estar dentro da Floresta Amazónica!!!!!!!! IRADO!!!!!
A caminhada toda foi show e tínhamos um grupo muito legal de pessoas de diferentes pontos do planeta.
Machu Picchu é sensacional, uma cidade construída há aproximadamente 500 anos no alto de montanhas de 1.800m de altura, bem no meio dos Andes Peruanos. Dimais!!!
Daí saí de lá e minha missão era chegar no norte da Colômbia para um casamento que estava a mais ou menos 5 dias de ónibus, e o casório rolaria exatamente dali a 5 dias. Já viu né?!. E lá vamos nós. Depois de 2 dias viajando, chegando na fronteira do Peru com o Equador…. adivinha….. uma greve de camponeses bloqueou todas as estradas do Peru, ninguém ia ou vinha, de lugar nenhum. Show fiquei preso nessa greve por quase dois dias. E o casamento, puts, a essas alturas tinha dançado. Eu tinha menos de 12 horas pra chegar a tempo e estava a 3 dias de distância, isso de ónibus. Quando finalmente conseguimos entrar no Equador, mais 30 minutos e o ónibus pára. Carai, o que é dessa vez? Um australiano olha pela janela e grita LAND SLIDE!!!! (deslizamento de terra). Hehe, pensei, ele tá tirando uma com a minha cara. Quando olho pela janela também…. havia pedras enormes bloqueando toda a pista!!! Bom, vamos todos o homens do busão e os caminhoneiros tentar tirar as pedras. Depois de tentar nos entender, peruanos, equatorianos, australiano e brasileiro, todos tentando combinar o esforço em espanhol, conseguimos em uma hora abrir uma passagem.
Dali corri pro aeroporto mais próximo e voei pra Quito (Equador), de lá pra Bogotá (Colômbia), e de Bogotá peguei uma conexão pra Bucaramanga onde foi o casório, mas meu penúltimo avião saiu atrasado e minhas esperanças de chegar no casamento ao menos para a festa de noite foram pro saco. Acabei dormindo no aeroporto em Bogotá e só cheguei no casório, em Bucaramanga, depois de muito perreio que não vou nem descrever aqui, às 9h da manhã do dia seguinte. Bom, esses vôos me deixaram sem grana, show, como vou sair da Colômbia agora?
Pra minha sorte, meu amigo Calote também tinha ido pro casório e combinamos de seguir viagem juntos. Pra minha sorte também ele tinha cash pra me emprestar. Bom, fomos de ónibus atravessar a fronteira até a Venezuela. Foram 7 horas subindo e descendo pelos Andes Colombianos com curvas sem fim, como se estivéssemos subindo a Serra de Caraguá infinitamente e depois descendo infinitamente, por 7 horas!!!!!! Não estou exagerando.
Fronteira totalmente sinistra, velho oeste total, 10 da noite. Com sorte conseguimos sair dali o mais rápido possível pra Mérida, Venezuela. Ali o ponto alto foi uma caminhada em que dormimos num vilarejo a 3.000m de altitude e subimos em mulas ate 4.200m, isso em 3h. Daí descemos de 4.200 para 1.500, ou seja, 2.700m verticais, em menos de 6 horas, andando a tarde toda. Bom, o resultado foi que além de paisagens lindíssimas e transições de vegetação interessantíssimas tivemos nossos joelhos totalmente danificados e inutilizados pelos próximos 2 dias.
De lá fomos pra Ciudad Bolivar de onde sai a expedição para ir ao Salto Angel, a cachoeira mais alta do mundo. Mas pra chegar lá as conexões de ônibus nos levaram a Santa Fé, um vilarejozinho no Mar do Caribe onde decidimos descansar por um dia. Lindo, mas sinistro total, diziam que era super violento e que perigava ser morto se andasse sozinho depois das 7 da noite nas ruas. Todas as casas estão rodeadas de grades. A gente tá acostumado a grades em Sampa, mas elas são disfarçadas de cercas bonitas. Lá tem cara de Carandiru, absolutamente todos os lugares são cercados por grades. Até as vendinhas (bodegas) tem apenas uma pequena abertura nas grades por onde se passam as mercadorias. Deu um pouco de medo. Mas de dia o lugar é cheio de pelicanos, comendo os restos que os pescadores jogavam no mar, lindo, água cristalina, e há 4 anos atrás era só o paraíso, não tinham grades. Dizem que foi o tráfico de drogas.
De lá fomos finalmente para a cachoeira, o salto, Salto Angel. Voa-se em um aviãozinho monomotor até o Parque Nacional de Canáima. De lá se pega uma lancha, na verdade uma canoa gigante de um pau só motorizada que leva 15 pessoas rio acima por 3 horas. Vamos navegando cada vez por rios menores com vista do Ayuan Tepui, a formação onde está a cascata, são tipo chapadas gigantes de rochas sedimentares, até chegar no acampamento que dá vista pra cachu. Lindo. Daí caminhamos pela mata por 1 hora e lá estamos, em baixo da danada. Depois tomamos banho no laguinho que se forma em baixo do salto. Lindo, lindo, lindo.
De lá viemos para o Brasil entrando por Boa Vista. Minha intenção era subir o Monte Roraima, mas com a taxa de câmbio que o Chavez definiu lá, você quando saca dinheiro num caixa automático paga exatamente o dobro do que se foi trocar cash em uma casa de câmbio, ou seja, ficar lá sacando do caixa custa exatamente o dobro do que se você tem cash na mão e troca com os cambistas. Resultado, subir o Roraima é um tanto caro, não queria gastar o dobro. Solução, entrar no Brasil, sacar dinheiro e voltar pra Venezuela pra trocar por moeda local pra poder fazer a caminhada. Só que, quando entrei em Boa Vista no Brasil, depois de 6 semanas viajando direto em que eu estava ou trabalhando muito, ou andando como louco, ou procurando o jeito mais barato de fazer o passeio que queria ou viajando de ônibus….. bom….. eu arreguei. A 12h de Manaus onde tenho amigos que me dão casa e roupa lavada…. adivinha? Entrei no busão direto pra Manaus e dei adeus à oportunidade de subir o Monte Roraima. Não vai ser dessa vez.
E agora estou em Manaus já há 7 dias, fazendo nada praticamente, só relaxando. É engraçado como eu precisava desse descanso mental, um lugar onde eu me sinta em casa, que não tenha que me preocupar onde vou comer, onde vou dormir, onde estou deixando minhas coisas, se alguém vai roubar algo, sei lá. Foi muito bom chegar aqui e encontrar pessoas tão legais e que me deixassem tão à vontade.
Daqui ainda tenho mais 5 semanas pra seguir. A ideia é descer o Rio Amazonas até a Ilha do Marajó, parando no caminho é claro, e ao invés de terminar a viagem lá, como era o plano original, devo visitar os Lençóis Maranhenses e a Chapada Diamantina antes de chegar em Sampa, tudo por terra, vamos ver.
Neste momento estou ocupado em me inscrever pro Best Job in the World. http://www.islandreefjob.com Me desejem sorte.
Quando voltar a Sampa vou fazer umas seções de fotinhos desta trip, portando para os visuais vocês vão ter que esperar um pouquinho.
saudades, beijos e abraços
Xaliba
ótima história..
CAra, como posso te chamar???
Xaliba???
Pois bem… eu queria saber explicar esse vício
voraz do mochileiro.
Ou ao menos encontrar alguém que nos entendesse sem
no menosprezar ou adimirar.
Quando estou na minha casa sinto ausência do meu lar.
Velho, acompanho as seus tópicos em Mochileiros.com,
certamente somos vizinhos, vivo por esse mundo não descarto uma trombada contigo por aí.
Abraços…